A prevalência cresce com a longevidade
A melhora nas condições de diagnóstico e tratamento no último século, trouxe novos desafios para a Ciência. A longevidade carrega consigo o medo da perda da autonomia. As doenças que levam à Demência vêm sendo o alvo de terapêuticas ainda ineficazes.
Pesquisas existentes mostram que a Demência cresce acentuadamente com a idade, sendo que, as mulheres e os analfabetos apresentam uma prevalência mais elevada. No Brasil, a incidência é mais elevada, a taxa para a população de 65 anos ou mais vai subir de 7,6% para 7,9% entre 2010 e 2020.
A cada dez décadas de sobrevida, o índice aumenta muito. Aos 80 anos, a prevalência da Demência pode chegar a 50%
AS DEMÊNCIAS DEGENERATIVAS
O tipo de Demência mais conhecido é a Doença de Alzheimer, que responde por 60 % dos casos. A perda de memória para fatos recentes, com piora progressiva chegando a amnésia (apagar totalmente o fato) é o sintoma mais importante para o diagnóstico, porém sozinho não define a doença. O quadro evolui para outras áreas cerebrais acometidas com desorientação no tempo e no espaço, dificuldade em executar tarefas que realizava com facilidade, dificuldades com julgamento, escrita, leitura, autocuidado, incontinência urinária e assim progressivamente.
Mas existem outros tipos de Demência nas doenças conhecidas como degenerativas.
O terceiro tipo é a Demência por Corpúsculos de Lewi, responsável por 20% dos casos. Uma característica desta doença é a alucinação visual e alguns sintomas que lembram a Doença de Parkinson, como alterações de marcha, desequilíbrio, tremor e rigidez.
A Demência Fronto-Temporal perfaz entre 10 a 15% dos casos. A marca dessa doença é a alteração de comportamento inicial como grande apatia, falta de crítica, mudanças de conduta social, desinibição, impulsividade, falta de persistência ou dificuldade para nomear objetos e precoce diminuição da fluência da fala.
Outra causa de Demência é a Doença de Huntington, uma enfermidade degenerativa de transmissão genética, autossômica dominante (cada indivíduo descendente de alguém afetado, tem 50% de chance de ser portador do gene e ter a doença). Geralmente inicia-se entre 30 e 40 anos, mas pode começar mais cedo, inclusive na adolescência. Há alterações na cognição semelhante ao Alzheimer, mas há muita labilidade emocional com um alto índice de depressão e suicídio. Mas o mais marcante são os distúrbios do movimento, com descontrole da fala, da deglutição, com espasmos vocais e movimentos parasitas em membros (em forma de inquietude, abalos ou movimentos sinuosos – movimentos chamados coreo-atetóticos).
O paciente evolui com muita dificuldade para deambular e precisa de auxílio para autocuidado e alimentação. A causa foi identificada no cromossomo 4 (uma repetição anômala) e não há cura ainda, apenas medicações paliativas como o Tetrabenazine, os Neurolepticos, antidepressivos e moduladores do humor.
DEMÊNCIAS DE CAUSAS REVERSÍVEIS
O Médico tem obrigação de diferenciar as Demências reversíveis, ou seja, potencialmente curáveis. Entre elas, posso citar:
Deficiência de vitamina B12 que pode ocorrer associada a quadros carenciais (etilismo, gestação, baixa ingestão de carne), no Hipotireoidismo e na Gastrite Autoimune;
Quadros infecciosos como Sífilis Terciária (quando afeta o cérebro ou medula) ou infecção pelo Vírus do HIV;
Doença metabólica, por exemplo o Hipotireoidismo;
Traumatismos encefálicos em sequência (como a Demência do Pugilista);
Hidrocefalia de Pressão Normal ou HPN – O que chama atenção nesta patologia é a importante dificuldade para marcha que ocorre no início de forma desproporcional. O indivíduo apresenta incontinência urinária, dificuldade acentuada para executar tarefas enquanto apresenta pouca alteração da memória. O diagnóstico é feito por um exame de imagem, história e ás vezes o liquor cefalorraquiano. O tratamento consiste em procedimento neurocirúrgico com colocação de um cateter que ajuda a circular o liquor (DVP – Derivação Ventrículo Peritoneal).
ALZHEIMER FAMILIAR OU PRECOCE
Alguns casos de Alzheimer Precoce (abaixo de 65 anos) estão relacionados a transmissão genética. Como o Alzheimer é uma doença de alta prevalência, pode haver casos numa mesma família. Isso não significa que é o Alzheimer Precoce ou Familiar, pois este é um tipo raro (apenas 5 % dos casos). Alguns genes podem ser transmitidos pelos pais, no entanto, estes genes não causam a doença por si só, precisando estar associados a outros fatores como idade avançada, falta de exercício físico e mental, Diabetes, Hipertensão ou traumatismo craniano para levar a doença. Ter um parente com Alzheimer dobra o risco de ter, mas não é determinante (depende do estilo de vida).
A Doença de Alzheimer Precoce ou Familiar pode se iniciar por volta dos 30 a 40 anos de idade. Os pais com esta alteração genética passam a mesma para 50% dos filhos e não há possibilidades de prever a idade de seu início.
TRATAMENTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER, DEMÊNCIA MISTA E DEMÊNCIA VASCULAR
Na Doença de Alzheimer, há falta do neurotransmissor Acetilcolina, logo, as medicações padronizadas têm como efeito aumentar o nível dessa substância no cérebro, como por exemplo os anticolinesterásicos (que evitam que a acetilcolina seja degradada e perca sua ação). Os medicamentos autorizados pela ANVISA são: Rivastigmina, Donepezila e Galantamina, todos fornecidos pelo sistema de medicação de alto-custo do Ministério da Saúde. Os pacientes com Demência Mista seguem o mesmo tratamento, acrescendo da prevenção de Acidente Vascular Encefálico.
As terapias de apoio são essenciais, como Fisioterapia, a Fonoterapia, a Terapia Ocupacional e as Psicoterapias.
Há estudos destacando a ação da Música e da Pintura na recuperação da memória. A Arteterapia como forma de expressão, reinvenção e descoberta de novas possibilidades. O paciente trabalha com o potencial remanescente e concretiza pensamentos, sentimentos e emoção através da criatividade.
PREVENÇÃO DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE DEMÊNCIA
Sabemos sobre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da Demência. Podemos estimar o risco de um determinado indivíduo apresentar a doença, mas não podemos determinar com certeza, se ela vai ocorrer. Logo, é melhor nos preocuparmos em manter a saúde, pois para a Demência não há cura ainda.
Não dominamos as causas de todas as Demências, mas sabemos como diminuir muito as chances de ter os principais tipos. As medidas mais importantes são comuns a muitas outras doenças: ingerir uma dieta saudável, não fumar, não utilizar álcool em excesso, realizar exercícios regularmente, diagnóstico precoce e tratamento da Hipertensão, do Diabetes, da Dislipidemia e da Tireoidopatia.
Uma dieta saudável inclui alimentos ricos em fibras, isso significa associar ao cardápio frutas e legumes frescos além de grãos. Não utilizar alimentos com níveis elevados de gorduras saturadas e gorduras trans. As gorduras recomendadas são as oriundas dos peixes, sementes, azeite e abacate (alguns exemplos). O sal deve ser limitado na dieta, pois eleva o risco de Hipertensão.
O controle do peso também é importante, sobrepeso e obesidade são fatores de risco. Índice de massa corpórea entre 25 e 30 já é considerado sobrepeso (IMC = Peso / E², sendo, numerador em Kg e o denominador em cm).
Além do cuidado com o corpo, é essencial o cuidado com o cérebro e a área psicológica ou emocional. Os estudos mostram que as taxas de Demência são mais baixas nos povos que permanecem mentalmente e fisicamente ativos a maior parte do tempo possível. As atividades que diminuem o risco de Demência incluem a leitura, a escrita criativa (manutenção de um diário, de um blog, escrever textos espontâneos ou livros), aprender novas línguas, tocar instrumentos musicais, mudar área de atuação, educação continuada, praticar esportes (mudar de práticas).
Os esportes mais complexos como Tênis, Golfe e Natação surtem bastante efeito. Os passeios e viagens mais longas são muito estimulantes. Gostar de palavras cruzadas e decifrar enigmas também faz parte.
Se todas estas atividades os mantem felizes, vocês estão no caminho da prevenção. Mas se existir estresse excessivo, ansiedade e depressão, deve-se procurar ajuda de profissionais habilitados, um médico Psiquiatra, um Psicólogo, um Psicanalista ou um outro tipo de Terapeuta.
A grande maioria dos casos de Demência não são genéticos. Os fatores ambientais são bem mais determinantes e em muitos deles, nós podemos agir a nosso favor, porém, a saúde deve ser preservada desde tenra idade.
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