O que são tumores?
Tumor é um termo que indica aumento anormal de um tecido ou de uma região do corpo humano. Pode ser assustador ouvir este nome se associá-lo a câncer intratável e até mesmo a morte antes do previsto. Pode realmente ser uma doença maligna, no entanto, também pode ser uma doença benigna, tratável e que as vezes nem mesmo precisa de intervenção médica, apenas observação.
Um tumor geralmente se forma a partir de uma célula defeituosa que se multiplica desordenadamente produzindo outras com o mesmo defeito e resultando no aumento do tecido. O tumor benigno, ao contrário do maligno, geralmente cresce lentamente, sem destruir muito os tecidos ao seu redor e sem enviar metástases para outros órgãos. Metástases geralmente ocorrem quando um tumor invasivo atinge o sangue e, células são transportadas para pontos do corpo distantes do tecido de origem, onde podem crescer e formar outras colônias tumorais.
Um tumor intracraniano é formado por divisões de células anormais que se encontram dentro do crânio: células ósseas, gliais e meníngeas, neurônios, vasos sanguíneos, nervos cranianos, glândulas e células malignas provenientes de câncer em outros órgãos. O tipo de tumor depende do tipo de célula que ele deriva.
Existem, portanto, diversos tipos de tumores intracranianos, cada um com evolução e características própria. Doenças que podem ser desde facilmente curáveis até rapidamente fatais. A consulta com o neurocirurgião é essencial para esclarecer todas as dúvidas, tipos de tratamento e evolução esperada.
Os tumores cerebrais podem ser hereditários ou genéticos? Quais as causas?
Os tumores cerebrais raramente são hereditários, ou seja, presentes em mais de um membro da família. Algumas exceções são os tumores do sistema nervoso central associados a síndromes genéticas como a Neurofibromatose, a Doença de Von-Hippel-Lindau e a Cavernomatose familiar.
Foram identificados genes que podem facilitar o surgimento de tumores pelo corpo; e genes que impedem naturalmente a formação de tumores, destruindo células defeituosas. Portanto, tumor pode ser considerado “genético”, mas sua formação é multifatorial, ou seja, além de uma predisposição genética existem outras causas para seu surgimento. Por exemplo, a radiação que é utilizada para radioterapia, ou mesmo para exames como o Rx e Tomografia, podem ser a causa de alguns tumores. Outra hipótese é a influência de infecções virais e de substâncias químicas. No caso do câncer de pulmão as substâncias químicas presentes no cigarro são sabidamente cancerígenas.
Quais são os tumores intracranianos?
Tumores intracranianos podem ser formados pelas estruturas que ocupam a caixa craniana como o osso, meninges (membranas que revestem o cérebro), cérebro, nervos cranianos e vasos sanguíneos; ou por metástases de tumores originários de outros órgãos do corpo.
As metástases, totalizam cerca de metade dos tumores que afetam o cérebro. Os locais de origem mais freqüentes no adulto são o pulmão, mama, pele (melanoma) e próstata. Em crianças: tumores do sangue (leucemia), do sistema linfático (linfoma), dos ossos (sarcoma osteogênico e de Ewing) e dos músculos (rabdomiosarcoma). Nesses casos, o tratamento deve ser voltado tanto para a lesão cerebral como para o órgão que originou o tumor.
O crânio é fonte de diversos tipos de tumores, a maioria deles benignos: osteoma osteóide, osteoblastoma, osteosarcoma, fibroma ossificante, granuloma eosinofilico, cisto ósseo aneurismático. O problema é geralmente identificado como um “caroço” crescendo na cabeça. Muitas vezes o tratamento consiste apenas na observação do desenvolvimento da lesão e a cirurgia pode resolver a maioria dos casos que apresentam crescimento progressivo ou que estejam causando sintomas.
Os meningeomas ou meningiomas, são originados nas membranas que revestem o cérebro (meninges) e estão entre os mais comuns. Como estão localizados logo abaixo do crânio, eles costumam crescer e comprimir o cérebro. A cirurgia é o tratamento mais eficaz para esse tipo de tumor e geralmente é possível a remoção total com cura da doença. Algumas vezes, estas lesões se comportam como malignas, nestes casos outros tratamentos como a radioterapia podem ser utilizados.
Existem diversas células que compõem o cérebro e podem gerar os mais diferentes tumores. Infelizmente, o tipo mais comum, responsável por aproximadamente metade dos tumores primariamente cerebrais, é o glioblastoma multiforme (GBM). Este tumor maligno é bastante agressivo, com grande poder de infiltração dos tecidos ao seu redor. Por não existir tratamento curativo, a cirurgia precisa ser complementada com radioterapia e, as vezes, quimioterapia. Apenas um em cada cinco pacientes com esse tipo de tumor sobrevive mais de dois anos. Em crianças, um tumor maligno e bastante freqüente é o meduloblastoma, nestes a cura vai depender do estágio em que a doença foi descoberta, do grau de ressecção da lesão e da resposta ao tratamento complementar à cirurgia (radioterapia e quimioterapia).
Existem outros tipos de tumores originados nas células cerebrais que podem variar de benigno a maligno, dependendo do grau de diferenciação de suas células. São eles: glioma, astrocitoma, oligodendroglioma, oligoastrocitoma, ependimoma, neurocitoma, gangliogliomas, ganglioneuromas. Existe uma escala da Organização Mundial de Saúde (OMS) para classificar os tumores: os benignos são grau 1 e os mais malignos como os GBMs são grau 4. O grau 2 pode ser considerado 10 vezes mais maligno que o grau 1; o grau 3, 100 vezes mais; e o grau 4, 1000 vezes mais maligno que o grau 1.
Os tumores grau 1 como o astrocitoma pilocítico, o ependimoma grau 1, o xantoastrocitoma, o ganglioglioma e ganglioneuroma podem ser curados se forem retirados totalmente na cirurgia. É importante salientar que se a retirada total do tumor for causar algum dano neurológico ao paciente, é preferível deixar um pouco de tumor mantendo o paciente sem novos sintomas.
Os tumores dos nervos cranianos mais comums são os schwannomas, neurinomas ou neurilenomas que geralmente acometem os nervos vestibular, acústico e facial. Os sintomas do neurinoma do acústico ou schwannoma vestbular podem ser perda auditiva, tontura, zumbido e perda de equilíbrio. O tratamento cirúrgico é geralmente eficaz. Existe também a alternativa da radiocirurgia quando a cirurgia não pode ser realizada.
Os vasos sanguíneos também podem gerar tumores, geralmente são lesões benignas como o hemangioblastoma. No sentido amplo da palavra tumor, ou seja, algo com efeito expansivo, os cavernomas (angiomas cavernosos) e malformações artério-venosas podem ser considerados tumores e são passíveis de tratamento cirúrgico.
Quando desconfiar de um tumor?
Os sintomas dependem principalmente de onde está situado o tumor e da velocidade de seu crescimento. Quando o tumor é muito agressivo, pode causar dor de cabeça muito forte associada a vômitos e letargia (sonolência excessiva), nestes casos a procura pelo neurocirurgião deve ser imediata. Seguem as manifestações neurológicas que devem estimular o paciente a procurar um especialista e que podem estar relacionadas a tumores no sistema nervoso central:
- dor de cabeça (cefaléia),
- desmaios e crises epilépticas (epilepsia),
- perda de força (paralisias, plegia ou paresia),
- formigamentos (parestesias) e outras alterações da sensibilidade,
- alterações visuais (perdas visuais, visão dupla, pontos luminosos) e alterações da fala (gagueira, afasia),
- alterações do estado mental (confusão, agitação), perda de memória,
- tonturas, alterações do equilíbrio e marcha,
- movimentos involuntários (tremores, tics),
- alteração do humor (irritabilidade, depressão).
Entretanto, esses sintomas podem estar presentes em doenças mais simples e comuns. Por exemplo, existem mais de 150 tipos diferente de dor de cabeça e a minoria delas está relacionada a uma doença neurológica grave, e ainda, 80% dos adultos vão ter, pelo menos uma vez na vida, um tipo de dor de cabeça que pode ser bastante intensa e incomodativa, e não estar relacionada a lesão estrutural no cérebro De uma maneira geral, podemos considerar que quanto mais antiga for a dor de cabeça mais benigna ela é. Nos casos de tumor a dor costuma ser de inicio recente e evoluir com piora progressiva além de estar freqüentemente associada a outros sintomas ou sinais no exame neurológico.
Sintomas neurológicos súbitos estão geralmente associados a uma doença vascular como o derrame (AVC), os tumores costumam causar piora progressiva dos sintomas apresentados.
Como se faz o diagnóstico?
A suspeita diagnóstica é feita através da história clínica e do exame neurológico. A partir daí, o neurocirurgião ou neurologista solicitam os exames complementares mais pertinentes para cada caso, que podem ser: Ressonância Nuclear Magnética (RNM), Tomografia Computadorizada (TC) e Arteriografia dos vasos cerebrais.
Qual o tratamento?
O tratamento depende do tipo de tumor, da localização, da idade do paciente e dos sintomas apresentados. As alternativas são: observação, cirurgia, radioterapia, quimioterapia e radiocirurgia.
Em situações específicas é possível fazer o acompanhamento da doença sem necessidade de submeter o paciente a qualquer tratamento, por exemplo, nos casos de meningiomas muito pequenos.
Geralmente, a cirurgia é o primeiro passo no tratamento dos tumores intracranianos. Sua finalidade é a remoção do máximo de tumor possível sem criar novos danos neurológicos ao paciente.
Alguns tumores podem ser curados somente com cirurgia.
A radioterapia é um tratamento complementar onde as células tumorais são irradiadas e destruídas. Utiliza-se uma fonte externa de material radioativo que é direcionada para a lesão. Quanto mais rápido for o crescimento tumoral, maior a eficácia desse tratamento. O radioterapeuta é o médico especialista neste tipo de tratamento e a dose e área a ser irradiada depende da avaliação conjunta deste médico com o neurocirurgião.
A quimioterapia se refere ao uso de medicações injetáveis ou orais que atingem as células tumorais. Na maioria dos tumores intracranianos primários a quimioterapia é apenas adjuvante, ou seja complementar. Mas em alguns casos de tumores com origens em outros órgãos, como por exemplo o germinoma ou linfoma, a quimioterapia é muito importante e decisiva para o tratamento. O oncologista é o médico especialista, responsável por escolher as melhores medicações e dosagens a serem administradas para cada caso.
A radiocirurgia, apesar do nome, não envolve corte ou necessidade de anestesia, funciona como uma radioterapia em que a dose é concentrada em um pequeno ponto, em uma ou poucas sessões, com mínimo efeito no tecido normal ao redor do tumor. Esse tipo de tratamento é reservado para os casos em que o tumor é pequeno, pouco infiltrativo e localiza-se suficientemente distante de estruturas sensíveis a radiação como o nervo óptico por exemplo.
Conclusões
Existem portanto mais de uma centena de tumores que acometem o espaço intracraniano, converse com o neurocirurgião para obter o máximo de informações a respeito de sua doença, afinal, se a medicina ainda não pode curar todos os tumores, o médico deve ao menos fornecer informações e proporcionar conforto ao paciente aliviando o sofrimento e tratando os sintomas.
O tratamento deve ser individualizado e contar com o apoio multiprofissional, visando sempre a melhor qualidade de vida do paciente e de seus familiares.
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